"ANTENA ESPORTIVA": Equilíbrio Admirável
O futebol brasileiro atingiu um nível de equilíbrio de se tirar o chapéu. Atualmente, no país, são várias as equipes com estrelas internacionais no elenco; jogadores caríssimos e badalados internacionalmente e escalações que fazem todos os apaixonados por futebol imaginarem belíssimas atuações quando aqueles 11 entrarem em campo.
Tendo em vista esse equilíbrio de qualidades individuais, se reduz cada vez mais o que era comum décadas atrás: times claramente superiores aos outros por períodos de cinco, ou até dez anos e que faziam os torcedores de todas as partes do país reconhecerem essa equipe como favorita a tudo que disputava em âmbito nacional. Isso acabou. Não tem só mais um favorito, tem alguns. Não tem só mais um craque no país, tem vários. Não tem só uma equipe que coloca medo, em quem enfrentar antes do jogo começar, só pela leitura dos 11 que atuarão. Esse equilíbrio é sim agradável de se notar, e é justo também, explico por que.
Com os valores individuais que defendem cada escudo, tendo suas qualidades equiparadas, o futebol premia aqueles times que tem um algo a mais, que têm entrosamento entre os jogadores, que têm uma equipe titular,já estabelecida, e que joga junto há mais tempo. Que tem uma química com o estádio onde joga, com a torcida e que tem harmonia entre diretoria, comissão técnica e atletas, e faz o velho jargão de que “Futebol é coletivo" ter cada vez mais sentido.
Para ilustrar meu raciocínio, minha tese de que o que está desequilibrando, a favor de determinadas equipes, que estão nitidamente jogando um futebol mais bonito e eficiente no Brasil, é o entrosamento. Peguemos a atual condição de cada equipe brasileira na Copa Libertadores. Farei então o absurdo de uma classificação somente dos brasileiros (absurdo, pois cada equipe enfrenta adversários diferentes, estão em grupos diferentes e a comparação não é correta de se fazer, mas ilustra tão bem tudo que disse, que cometerei esse deslize). Vamos a ela:
EQUIPE
|
JOGOS
|
PONTOS
|
%PTS GANHOS
|
Atlético
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4
|
12
|
100
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Corinthians
|
4
|
7
|
58
|
Fluminense
|
4
|
7
|
58
|
Grêmio
|
4
|
6
|
50
|
Palmeiras
|
3
|
3
|
33
|
São Paulo
|
3
|
3
|
33
|
O Atlético, brasileiro com a situação mais tranqüila nessa fase de grupos, já classificado para as oitavas-de-final e atual líder geral da competição, é, inegavelmente, a equipe que manteve a maior base do ano passado. Nenhum jogador importante foi vendido e a escalação titular teve apenas uma mudança, se comparada à escalação da equipe que atuou na maior parte do campeonato brasileiro de 2012. Danilinho por Diego Tardelli. Além de tudo, o time do técnico Cuca é fortíssimo em casa, o que pode ser comprovado pelo fato de estar desde a reinauguração do Estádio Independência, há quase um ano, sem perder nenhum jogo em seus domínios.
O Corinthians é a equipe que, junto ao Atlético, está jogando o futebol mais agradável e eficiente nessa primeira fase de Libertadores. O time defende o título da competição e, além disso, é o atual campeão mundial. Não se contentando com o elenco que foi muito vencedor no ano passado ainda se reforçou, com nomes como o de Alexandre Pato, jogador badalado internacionalmente e que, podem ter certeza, que assim que encaixar cem por cento,na equipe,vai marcar gols com uma freqüência excelente. A equipe paulista se reforçou sem alterar drasticamente o padrão de jogo da equipe, o que permite com que ela dê resultados em campo rapidamente.
A equipe do Fluminense foi campeã do Brasileiro de 2012, jogando de uma maneira que não vem dando certo na Libertadores. A equipe ganhava a maioria dos jogos no ano passado se arriscando muito pouco ofensivamente e dando o bote certo nos adversários, na hora certa, com uma eficiência cirúrgica e também de se admirar. O porquê de não estar dando certo é uma incógnita, talvez pela não exposição tão grande dos times que está enfrentando como os adversários do nacional de 2012 se expuseram. Fato é que o time comandado por Abel Braga está jogando o necessário pra se classificar, sem encher os olhos de quase ninguém, mas deve sim seguir para a próxima fase da competição Sul-Americana.
As situações de Grêmio e Palmeiras são facilmente percebíveis. Enquanto a equipe do sul se arriscou em investir pesado, numa reformulação cara do seu elenco e principalmente da sua equipe titular, se arriscando a não obter padrão de jogo a tempo de jogar futebol digno de campeão de Libertadores, o Palmeiras vive uma fase turbulenta dentro e fora de campo. Não há harmonia nenhuma entre torcida, time e diretoria. Isso é nítido para todos que acompanham os noticiários esportivos, que são obrigados a informar absurdos como as agressões a jogadores, protestos violentos e depredações de patrimônio. Atitudes de marginais, não de torcedores, que não condizem com uma sociedade de um país em expansão como o Brasil em pleno século XXI. O Palmeiras é sim um caso a parte, e torçamos para que essa maré passe, senão corremos o risco de perder uma grande equipe do futebol brasileiro para o desespero.
Por último o São Paulo, que mais que modificar boa parte de seu plantel de atletas, modificou (ou tenta), completamente, seu padrão de jogo, provavelmente, pela venda de seu grande astro, Lucas, para o PSG da França. É uma equipe que ilustra bem, assim como o Grêmio, que ter jogadores que botam medo nos adversários pelo que fizeram em outras equipes não é garantia de sucesso; o time precisa, rápido, criar um padrão de jogo eficiente e um pouco mais humilde, com mais dedicação tática por parte de jogadores ou de setores do time. Cobro pressa do time do São Paulo pois a possibilidade de ficar de fora até das oitavas de final não pode ser descartada, e uma equipe com a grandeza e tradição do tricolor paulista em Libertadores, não pode entrar em uma competição desse porte para ser eliminada na primeira fase. Não condiz com tudo o que já fez historicamente na disputa por esse mesmo caneco.
É evidente que a partir das oitavas-de-final, tudo muda. O futuro das equipes será decidido por dois jogos, contra uma mesma equipe, o que é perigoso para todos, inclusive para os times que estão demonstrando mais equilíbrio, entrosamento e consciência tática. Não se pode prever jamais que essas equipes que estão, aparentemente melhor preparadas nessa fase de grupos, vão mais longe que outras em que não se vê eficiência,por enquanto. Caímos, então, no velho jargão de que o “Futebol é uma caixinha de surpresas”, e de fato é: tudo pode acontecer. Mas, Atlético e Corinthians estão sim um pouco à frente,tecnicamente, dos outros brasileiros da competição, e isso os credencia, nem que seja 1% a mais, a irem mais longe nessa disputa pela tão sonhada Copa Libertadores da América. Aguardemos, amantes do futebol, ansiosos pelos próximos capítulos. Que o futebol premie um time que nos dá gosto de ver jogar, e que essa taça venha para o Brasil.
Por Guilherme Frossard
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